Amar a nós mesmos é certo?
Amar a si mesmo não é bem visto no Ocidente. Muitas vezes associamos isso com pessoas autocentradas, que não ligam para as outras.
Na verdade, temos uma tendência de não nos valorizar, para evitar que nos considerem uma pessoa autocentrada.
Mas na tradição budista, que produziu inumeráveis indivíduos excepcionalmente generosos e altruístas, há uma ênfase no desenvolvimento do amor a si próprio como um pré-requisito indispensável para amar os outros. Na tradição cristã podemos também lembrar que a injunção é: “ama os outros como a ti mesmo”, dando a entender que deveríamos amar não apenas os outros, mas também a nós mesmos.
Os budistas acreditam que se você não se ama, é difícil, se não impossível, amar outras pessoas. E se você pensar sobre isso, talvez descubra, ou talvez já tivesse essa suspeita, que algumas das pessoas mais egoístas que você conhece, lá no fundo, realmente não gostam de si mesmas. O seu egoísmo é um mecanismo de compensação. Por outro lado, muitas pessoas calorosas, generosas e amorosas são capazes de se sentir à vontade com elas próprias, sem parecer, de modo algum, narcisistas ou egoístas.
Se você não gostar de alguns aspectos seus, a sua tendência será não gostar das mesmas coisas em outras pessoas. Na verdade, os psicólogos chamam de “projeção” o seguinte processo: às vezes temos tanta aversão por alguma característica de nossa personalidade que recusamos a admitir que ela exista (se estiver pensando agora que só os outros fazem isso, você está projetando neste exato momento!). Mas conseguimos ver essa mesma característica nas outras pessoas e assim “projetamos” nelas o nosso “lado sombrio” não reconhecido. Portanto, grande parte de nossa má vontade em relação aos outros é, na verdade, uma aversão por nós mesmos. É evidente que se quisermos melhorar nosso relacionamento com as outras pessoas, temos que também melhorar o nosso relacionamento com nós mesmos.
É claro que se nossa metta começasse e terminasse com nós mesmos, não seria realmente metta, seria egoísmo. Assim, embora o primeiro estágio da prática inicie com nós mesmos, ela passa para os outros nos quatro estágios restantes.
É importante garantir que você faça o primeiro estágio (não o ignore – se for difícil significa que você precisa fazer). O cosmos não vai dar a você uma recompensa extra se você ignorar a si mesmo(a). Mas lembre-se também de fazer os outros estágios.