Quando penso em um inimigo sinto raiva dele
Você pode ter lido em algum lugar desse site que a meditação conta com o fato de existir uma brecha entre estímulo e resposta e que (supondo que estamos conscientes) podemos fazer escolhas nessa brecha. Podemos escolher como iremos responder em qualquer situação dada. A psicologia budista faz uma interessante distinção entre sentimento e emoção, e essa distinção lança alguma luz na brecha.
Sentimento
Nós tendemos a usar as palavras “sentimento” e “emoção” mais ou menos da mesma maneira, mas na psicologia budista o sentimento se refere aos nossos gostos e aversões básicos, viscerais. Os sentimentos basicamente são de três tipos: agradáveis, desagradáveis ou neutros.
Essas respostas são automáticas, ou seja, não temos nenhum controle sobre elas. Há algumas coisas em algumas pessoas de que simplesmente não gostamos, em um determinado momento (entretanto, nossos gostos e aversões podem mudar com o tempo).
Emoção
A emoção, por outro lado, refere-se às respostas ativas que surgem com base nos sentimentos. Com base em um sentimento desagradável, podemos fazer surgir a má vontade (que é uma emoção). Quando não estamos sendo conscientes, essas respostas emocionais surgem automaticamente. Entretanto, quando temos consciência, podemos ter escolha acerca de como vamos responder.
Quando você evoca na sua mente uma pessoa difícil, poderão surgir muita associações desagradáveis relacionadas a essa pessoa. Isto faz surgir sentimentos desagradáveis.
Então uma, entre duas coisas, pode acontecer. Se perdermos nossa atenção, é provável que a resposta emocional da má vontade surja, com base naqueles sentimentos desagradáveis.
Entretanto, se mantivermos nossa atenção, teremos opções. Podemos escolher sentir os sentimentos desagradáveis que surgem espontaneamente, e podemos escolher desejar o bem àquela pessoa.
Aprendendo a ficar confortável com o desconforto
Uma coisa importante a lembrar é que as coisas que parecem desagradáveis não são necessariamente “negativas”. Um exemplo é sentir vergonha. Sentir vergonha não é uma experiência agradável (é uma experiência desagradável), mas é considerada positiva em termos psicológicos budistas, porque é uma emoção baseada em uma sensibilidade ética.
E nem tudo que é agradável é positivo, obviamente. É possível sentir prazer com a falta de delicadeza e a indelicadeza é um estado emocional negativo.
Uma das coisas que temos que aprender na meditação é sentir-nos confortáveis em meio ao desconforto, de modo que não reagimos de modo inapropriado e não criamos estados emocionais negativos que apenas levarão a mais sofrimento no futuro.
Abrindo mão da má vontade
De qualquer maneira, voltando a você e àquela pessoa difícil… tomar consciência dessa distinção entre sentimento e emoção permite que nos sintamos confortáveis em meio ao desconforto de sensações desagradáveis, sem dar surgimento à má vontade. Quando a má vontade de fato aparecer, tome consciência disso e escolha abrir mão dela. Com prática, a nossa atenção plena só tenderá a se fortalecer e nossas emoções positivas, a se desenvolver e desabrochar.